Como a língua dos Rolling Stones mantém a marca eternamente jovem e atual

A Língua dos Rolling Stones mantém a imagem da banda eternamente jovem

A língua dos Rolling Stones é um dos logotipos mais conhecidos do mundo. Mais conhecido que a própria banda, inclusive. E isso não é pouca coisa quando se fala de uma das marcas mais importantes da indústria da cultura e entretenimento no século XX, e que continua relevante no século XXI. Nesse artigo vamos falar sobre a importância dessa imagem para a longevidade da banda, que já passa de 60 anos de carreira.

Porque a longevidade dos Rolling Stones é impressionante

Os Rolling Stones estão em atividade desde 1962. São mais de 60 anos de carreira, sem indicar que uma aposentadoria esteja próxima.
Isso já seria impressionante quando consideramos que o baterista Charlie Watts faleceu em 2021 e Mick Jagger e Keith Richards, que aprenderam a deixar os problemas pessoais de lado, já passaram dos 80 anos e ainda mostram uma vitalidade incomparável no palco, especialmente no caso de Keith Richards, que é famoso por não levar a vida recomendada pelos médicos para envelhecer com saúde.

O que torna a longevidade dos Rolling Stones tão impressionante é que eles não precisaram mudar o seu posicionamento de marca. Jagger, Richards e Cia continuam fazendo o mesmo tipo de música, com a mesma temática no conteúdo das letras, e se apresentando do mesmo jeito.

Eles não tiveram de se reposicionar no mercado, porque a Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood envelheceram. Mas a marca Rolling Stones, não. E o seu famoso logotipo, a Língua dos Rolling Stones, tem um papel crucial na sua estratégia de marketing.

O posicionamento da marca Rolling Stones

Os Rolling Stones surgiram em 1962, no contexto social e cultural dos efervescentes anos 1960, auge da Guerra Fria, Guerra do Vietnã e da liberação sexual, que permitiu que a sexualidade fizesse parte do apelo de marcas e produtos de uma maneira mais explícita do que no passado, porque ela sempre esteve lá, mas era mais reprimida. Foi esse ambiente de rebeldia que permitiu o surgimento de estratégias de comunicação como o Calendário Pirelli, por exemplo.

Sexo, drogas e Rock ´n´Roll

Nesse contexto, em que o apelo sexual e a rebeldia eram valorizados, os Rolling Stones fizeram valer o lema “sexo, drogas e rock and roll”, com escândalos, relacionamentos tempestuosos e até alguns membros do grupo sendo presos em algumas ocasiões, o que era fartamente noticiado na imprensa.

Mas o que, em outra situação, poderia significar uma crise de imagem, para os Rolling Stones era marketing, porque liberdade sexual e rebeldia, com desafio às regras estabelecidas, era o que o seu público esperava deles.

Você deixaria sua filha sair com um Rolling Stone? A rebeldia como estratégia de marketing

Era sempre era bom alinhar as expectativas do público com o que os Rolling Stones entregavam. Nos palcos e fora deles.
Entretanto, nos bastidores dessa imagem pública de rebeldia e contestação, resumida na frase “você deixaria sua filha sair com um Rolling Stone?” criada pelo empresário Andrew Loog Oldham, em 1970 os Stones já eram um negócio milionário. E quem tomava as decisões de negócios, como faz até hoje, era Mick Jagger, que ficou incumbido de mandar criar e aprovar, um logotipo para a banda.

A origem da Língua dos Rolling Stones

Existem dois mitos a respeito da origem da Língua dos Rolling Stones, que apesar de já terem sido fartamente desmentidos, ainda circulam por aí. O primeiro deles é que ele foi inspirado na boca de Mick Jagger, e o segundo é que o autor do desenho teria sido o artista plástico Andy Warhol.

O segundo é bem fácil de desmentir, porque em qualquer disco dos Stones é possível encontrar a informação de que o criador do famoso logo é o designer John Pasche.

O processo de criação da língua dos Rolling Stones

Em sua reunião de briefing com Mick Jagger, o vocalista dos Stones, que sempre gostou da cultura da indiana, passou como referência a deusa Kali, ou Kali, a destruidora, uma das divindades do hinduísmo, retratada com 4 braços, ou dez braços, e com a língua de fora.

A genialidade de Pasche para seguir o briefing de Jagger foi entender que, apesar de uma ameaçadora deusa da destruição, como Kali, ter uma conexão com o conceito de algo atraente, mas perigoso, que os Rolling Stones representavam, ele não poderia simplesmente coloca-la em um logo.

Além de ser tecnicamente difícil colocar Kali como estava, em um logotipo, a conexão com a cultura indiana trazia alguns riscos para a longevidade do logo. No fim dos anos 60, início dos 70, a Índia era um local místico, misterioso, onde muitas pessoas iam para estudar saberes antigos.  Ou seja, a Índia era charmosa, e a cultura indiana estava na moda no Ocidente. Mas isso poderia mudar, como de fato mudou.

Pasche então entregou um desenho muito mais simples, inspirado na boca aberta de Kali, com a língua de fora, que é o logo oficial dos Rolling Stones desde o disco Sticky Fingers, de 1970.

Porque a Língua dos Rolling Stones é um dos melhores logos já criados

A língua dos Rolling Stones é um dos melhores logos já criados, juntamente com o Swoosh da Nike, a concha da Shell, o crocodilo da Lacoste ou a sereia do Starbucks. E logicamente que essa é uma escolha bastante pessoal, mas existem alguns critérios que fazem um logo ser bom.

O primeiro é ele ser fácil de reconhecer, ser memorável. As pessoas o virem e imediatamente associarem à marca. O segundo é ser versátil, fácil de aplicar em qualquer cor, dimensão ou tipo de material, de um cartão de visitas a um outdoor, passando por uma camiseta, e poder ter algumas adaptações que possam ser feitas sem as pessoas perderem a referência principal.

O logo dos Rolling Stones é extremamente versátil, já tendo sido adaptado com as cores de bandeiras nacionais de diversos países e até com espinhos, para a tournée do disco Voodoo Lounge, que ficou na memória dos brasileiros por ter sido a primeira vez que a banda se apresentou no Brasil, tocando no Estádio do Pacaembu em São Paulo nos dias 27, 28 e 30 de janeiro, e pelo Estádio do Maracanã no Rio de Janeiro em 2 e 4 de fevereiro de 1995.

Mas a língua dos Rolling Stones também é um logo versátil por poder ser aplicado em qualquer objeto e funcionar bem. Das camisas de times de futebol, como o Paris Saint Germain ao Barcelona, passando por, garrafas de whisky, isqueiros Zippo até automóveis, como o Gol Rolling Stones, a edição comemorativa de seu campeão de vendas que a Volkswagen lançou em 1995. E claro, nas camisetas.

Celebridades e pessoas comuns com a camiseta dos Rolling Stones

Alguns fãs mais dedicados dos Rolling Stones, ficavam irritados vendo a famosa língua estampando as camisetas de pessoas que, na opinião deles, não eram fãs dos Stones, e não conheciam uma única música da banda além de Satisfaction. Mas se o choro e o esperneio são livres, também são inúteis.

A língua dos Stones se tornou um ícone fashion, estampando camisetas de famosos como as atrizes Jennifer Tilly, Michelle Tratchtenberg, Penélope Cruz, Thaila Ayala, Jessica Alba, Giovanna Ewbank  e muitos outros, além de milhões de pessoas comuns, de todas as idades.

Como a língua dos Rolling Stones contribui para a longevidade da banda

Um logo é parte fundamental para o brandbuilding, a construção de uma marca. Ele é como a sua bandeira, o principal componente da sua identidade visual, que não pode ser copiado ou utilizado por mais ninguém.

Ao ter se tornado um ícone pop, e um ícone fashion, que é reconhecido e usado por pessoas de todas as idades, a língua dos Rolling Stones é um símbolo que permanece atual, que não envelhece. E dessa maneira, a marca permanece sempre atual, de modo que Mick Jagger, Keith Richards e Ron Wood envelhecem. Os Stones, e seu logo, não.

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