Rubens Barrichello: Gatilhos mentais explicam se fomos injustos com ele

Rubens Barrichello teve a terceira carreira mais longa da Fórmula-1. Foram 18 anos correndo em alto nível, com dois vice-campeonatos mundiais e 11 vitórias em grandes prêmios, ficando em 28º lugar na lista dos maiores vencedores da categoria de elite do automobilismo. Mesmo assim, até hoje Rubinho é alvo de memes e piadas por “ser lento”. Fomos injustos com Rubens Barrichello? E o que gatilhos mentais tem a ver com isso?

Os números de Rubens Barrichello na Fórmula 1

Rubinho, como também é conhecido, teve uma carreira de 18 anos na Fórmula 1, a terceira maior até hoje, que durou de 1993 a 2011.Nesses 18 anos na categoria mais disputada do automobilismo, conquistou dois vice-campeonatos mundiais, e venceu 11 corridas, o que o coloca em situação de empate com Felipe Massa, outro piloto brasileiro, e com Jacques Villeneuve, do Canadá.

Sendo bem rigoroso, em um critério de desempate, Rubens Barrichello ficaria atrás de Villeneuve, já que o canadense conquistou o campeonato mundial de 1997, mas a frente do compatriota Felipe Massa, que tem “apenas” um vice-campeonato mundial, pela Ferrari, em 2008, que inclusive é motivo de contestação judicial de Massa, enquanto Rubinho tem dois, em 2002 e 2004.

Memes de Rubinho Barrichello

A carreira de Rubens Barrichello está longe de ser ruim, ou fracassada. Muito pelo contrário, aliás. Ele está na lista dos melhores dessa categoria do automobilismo, já que muitos pilotos ficaram anos na Fórmula 1 sem marcar um ponto sequer, quanto mais conquistar um lugar no pódio ou o primeiro lugar de uma prova.

Entretanto, mesmo tendo encerrado a carreira na Fórmula 1, e hoje pilotando em outras categorias do automobilismo, Rubinho continua “estrelando”, ou sendo alvo, se preferir, de muitas piadas na forma de memes, sempre se referindo a ele como “atrasado”.

Rubinho Pé de Chinelo , sempre atrás do alemão.

Esses memes de Rubinho Barrichello até que são engraçados, mas quando ele estava no auge da carreira, a zoeira que recebeu dos humorístico Casseta & Planeta , da Rede Globo, com o apelido Rubinho Pé de Chinelo, e Pânico, com a versão da música xibom bom bom, do grupo de Axé “ As Meninas” que provavelmente ninguém mais se lembra, com Sempre Atrás do Alemão, eram capazes de testar a paciência, e a resiliência, de qualquer um .

Fomos injustos com Rubens Barrichello?

Embora Rubens Barrichello não tenha sido campeão de Fórmula 1, ele teve uma carreira respeitável, pilotando em altíssimo nível, com dois vice-campeonatos mundiais. Fazendo um comparativo com atletas olímpicos, que são de altíssimo rendimento em suas especialidades, você acha que alguém que ganha uma medalha de prata em duas olimpíadas mereceria ser aplaudido, ou pelo menos, respeitado? Ou alvo de zombaria?

Rubens Barrichello foi alvo de zombaria, de uma zoeira pesada, que muitas vezes, chegava próxima da crueldade, simplesmente porque não conseguia vencer o alemão Michael Schumacher, que não era um adversário qualquer, mas um dos maiores pilotos de Fórmula 1 de todos os tempos.

Analisando dessa maneira, fica quase óbvio que fomos injustos com Rubens Barrichello. A dúvida é: Por que fizemos isso?

Os gatilhos mentais, uma das teorias da psicologia mais aplicadas no marketing, especialmente ao marketing digital, que fala sobre sentimentos e reações automáticas que todos os animais, inclusive os serem humanos, têm, pode oferecer uma possível explicação.

A carreira de Rubens Barrichello na Fórmula 1

Para entender as razões de tanta zoeira com Rubinho, e porque podemos ter sido injustos com ele, vamos analisar a sua carreira na Fórmula 1, focando no seu início na categoria, primeiro na Jordan, depois na Stewart, até chegar a Ferrari, que foi o auge de sua carreira, e também o auge das polêmicas.

E para efeitos da análise que faremos, não falaremos de sua passagem pelas equipes Honda, de 2006 a 2008, Brawn GP, em 2009, e Willians, em 2010 e 2011, de onde ele se retirou da categoria, indo para a Fórmula Indy e depois para a Stock Car.

Rubens Barrichello na Jordan

Rubens Barrichello estrou na Fórmula 1 em 1993, pela equipe Jordan, Rubinho chegou a largar na 12ª posição e chegar à quarta na primeira volta de sua primeira corrida, embora não tenha terminado a prova.

Conquistou seu primeiro pódio e sua primeira pole position em 1994, e terminando a temporada em sexto lugar, a frente de pilotos de equipes como Benetton, Mclaren e Willians, que contava com Nigel Mansell, campeão mundial em 1986 e companheiro e grande rival na Willians do brasileiro Nelson Piquet.

Esse começo promissor, conseguindo bons resultados, em uma equipe pequena, com carros pouco competitivos, parecia colocar Barrichello na mesma trilha dos grandes pilotos brasileiros de Fórmula 1 que vieram antes dele: Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna.

Como a morte de Ayrton Senna afetou a carreira de Rubens Barrichello

A tradição do Brasil na Fórmula 1 é inquestionável. Ela, inclusive, é responsável pelo Grande Prêmio do Brasil, atual grande Prêmio de São Paulo, ser o maior evento anual realizado na capital paulista, no Autódromo de Interlagos, na Zona Sul de São Paulo.

Mas para Rubens Barrichello, a força dessa tradição se tornou também um peso difícil de carregar, quando Ayrton Senna faleceu em um trágico acidente em primeiro de maio de 1994, no autódromo de Ímola, na Itália.

Ayrton Senna, além de ser o maior piloto de todos os tempos para muitas pessoas, no Brasil e no exterior, era também um desses personagens “maiores que a vida”, um ídolo para milhões de brasileiros.

Um grande vencedor, extremamente carismático, e querido pelo público, Ayrton Senna era uma figura midiática poderosa, que todos os anos atraia milhares de pessoas para os autódromos ao redor do mundo e para a frente dos aparelhos de TV, para acompanhar suas ultrapassagens e disputas acirraras, especialmente com Alain Prost.

Senna era admirado no mundo inteiro, mas no Brasil ele era o rosto, a personificação da Fórmula 1 e de um vencedor.  Por isso mesmo, era peça fundamental das ações publicitárias de diversas empresas que viam a F-1 como um pilar de suas estratégias de comunicação, o que aumentava ainda mais a atenção que ele recebia dos torcedores, em um mecanismo que se auto alimentava.

Não somente e marcas ligadas à indústria automobilística, como Michelin, Pirelli e diversas montadoras, mas de produtos de alto luxo investiam na Fórmula 1, dada a exposição positiva que tinham no glamour das corridas.

Os valores também eram, e são, muito altos. A Fórmula 1 é um dos esportes que mais recebe investimento de marketing, tanto durante todo o ano em ações de marketing digital, assessoria de imprensa e tudo o mais que você puder imaginar, culminando com grandes ações out of home e eventos paralelos nas cidades onde acontecem os grandes prêmios.

Para se ter uma ideia, em valores atualizados, nos últimos 15 anos a Fórmula 1 recebeu 30 bilhões de dólares em patrocínio.

Como Rubinho recebeu a chance de ser um ídolo brasileiro

Com a ausência de Senna, era necessário achar um substituto. Todos sabiam que isso não seria fácil, porque por mais de duas décadas o Brasil tinha sido muito bem representado nas pistas, com brasileiros vencendo oito campeonatos mundiais desde a década de 70.

Era impensável não haver um protagonista brasileiro na Fórmula 1!

A escolha mais promissora naquele momento era Rubens Barrichello, que recebeu a oportunidade de se tornar um ídolo brasileiro, estrelando propagandas de TV para a Pepsi.

Faltava combinar com os russos, ou melhor, com os alemães! Na mesma época surgiu outro grande piloto, um dos poucos que rivaliza com Ayrton Senna pela posição de melhor da história, o alemão Michael Schumacher, que logo de cara foi campeão pela equipe Benneton, em 1994 1995.

Rubens Barrichello na Stewart

Em 1997 Rubens Barrichello foi para Stewart, que como a anterior, era uma equipe que não tinha um carro competitivo, que pudesse ambicionar grandes resultados.

Mesmo assim, Barrichello conseguiu alguns excelentes resultados, principalmente considerando com o carro limitado que tinha. O segundo lugar no Grande Prêmio de Mônaco, em 1997, sob chuva, no melhor estilo Ayrton Senna, pode ser considerado heroico, épico!

Mesmo assim, já havia torcedores que consideravam esses resultados abaixo das expectativas, porque esperavam que Rubinho tivesse o mesmo protagonismo de Senna!

Rubens Barrichello na Ferrari

Mesmo o fã mais sem noção de Fórmula 1 sabe que para ser campeão é preciso que o melhor piloto tenha o melhor carro. Um piloto excepcional poderia conseguir alguns bons resultados sem um carro de ponta, como Ayrton Senna fez com a Toleman, em 1984. Mas para pensar em ser campeão, era preciso ter um carro à altura.

Quando Rubinho recebeu o convite da Ferrari, as expectativas.  Se com carros inferiores, Barrichello já havia conseguido mostrar serviço, na Ferrari ele poderia finalmente conquistar um título.

O problema é que Rubinho chegou como segundo piloto e isso tinha ficado claro desde o começo. O primeiro piloto era justamente Michael Schumacher, que já tinha construído a sua marca com o bicampeonato mundial conquistado em 1994 e 1995, e por isso tinha privilégios na equipe pela qual viria a conquistar mais 5 títulos consecutivos:  2000, 2001, 2002, 2003 e 2004, um recorde que nenhum piloto conseguiu superar até hoje.

A marmelada no GP da Áustria 2002

Além de ser o astro da equipe, Schumacher tinha algumas vantagens contratuais em relação a Rubinho, que colocavam o brasileiro em desvantagem em relação ao companheiro de equipe, como no GP da Áustria de 2002, em que ele foi obrigado a entregar o primeiro lugar para o piloto alemão no último momento, ficando em segundo lugar.

Explicando o que acontecia, Michael Schumacher tinha vencido quatro provas e liderava com folga o mundial de pilotos, e Barrichello estava na liderança daquela corrida. A Ferrari deu a ordem pelo rádio de que ele teria de deixar Schumacher passar e vencer a prova, ficando em segundo lugar.

Depois de oito voltas de discussões pelo rádio, cujo conteúdo ninguém sabe com certeza até hoje, mas que se supõe que incluíam ameaças de rescisão do contrato da Ferrari com Barrichello, o brasileiro abriu para o alemão ultrapassar a poucos metros da linha de chegada, deixando claro que se tratava de uma combinação, ou uma ordem, que ele cumpria muito a contragosto.

O público no autódromo em Spielberg explodiu em vaias e Schumacher, constrangido, cedeu a posição mais alta do pódio a Barrichello. Mas foi um momento totalmente “vergonha alheia”, um dos mais constrangedores da História da Fórmula 1.

Contratos devem ser cumpridos?

O público brasileiro não enxergou Barrichello como uma vítima, embora visse Schumacher (ainda mais) e a Ferrari como os vilões da história.

Contratos assinados devem ser cumpridos, mas o público da Fórmula 1 se lembrava de como uma ala da equipe Willians tentava prejudicar Nelson Piquet em benefício de Nigel Mansell, supostamente por ele ser inglês. E como o presidente da FIA – Federação Internacional de Automobilismo o francês Jean Balestre, agiu para prejudicar Senna em benefício de Alain Prost. companheiro do brasileiro na Mclaren.

A diferença é que Piquet e Senna conseguiram se impor contra essas situações. E o público brasileiro, que se lembrava disso, não aceitou a marmelado no GP da Áustria com naturalidade.

Pé de chinelo – A crise de imagem de Rubens Barrichello

Depois do que ocorreu na Áustria, a frustração se transformou em raiva, e em uma crise de imagem. Não tanto para a equipe Ferrari, ou para Schumacher, que gostemos ou não, era o melhor piloto daquela época, mas para Rubens Barrichello, na forma de críticas na imprensa, e muitas, muitas piadas com ele, por parte do público e de humorísticos como o Casseta & Planeta e o Pânico, que fizeram dele um alvo ainda mais constante.

O Casseta & Planeta, que já pegava no pé de Rubinho, fez um esquete satirizando o ocorrido que, se não deixa de ser engraçada, chegou às raias da crueldade, em que o humorista que representava “Rubinho Pé de Chinelo” tinha de comer comida de cachorro porque a equipe mandou. Mas a pior parte era que a vez dele de comer era depois do cachorro da raça pastor alemão.

O Pânico não deixou por menos. Apelidou uma tartaruga de brinquedo como Rubens, e em 2006, quando Rubinho já estava na Willians e Felipe Massa era o segundo piloto da Ferrari, a entregou ao piloto alemão, que simulou choro e não perdeu a oportunidade de alfinetar o ex-companheiro de equipe.

Rubinho mostrou resiliência

A situação se tornou complicada para a “marca Barrichello”, mas é inegável que Rubinho mostrou resiliência. Tanto para se focar na carreira e manter a autoestima, como para tentar reverter a situação a seu favor e gerar alguma simpatia do público, chegando a participar do Casseta & Planeta como convidado.

Quão bom piloto era Rubens Barrichello?

É inegável que Michael Schumacher foi o melhor piloto daquela geração, tanto que quebrou vários recordes de Ayrton Senna.

Mas era um grande exagero criticar Barrichello como se ele fosse um piloto ruim, motivo de piada; Muito pelo contrário! Ele certamente não conseguiu ser tão bom quanto Senna, mas quantos jogadores de futebol foram tão bons quanto Pelé, Maradona, Garrincha ou Messi?

Rubens Barrichello estava muito longe de ser um piloto ruim!  Tanto que, com os pontos que fez em 2004, seu segundo vice-campeonato, teria sido campeão com folga na grande maioria dos campeonatos de anos anteriores.

Atrasado – Rubens Barrichello x Felipe Massa

Por que a imagem de “atrasado” colou em Rubens Barrichello a ponto de, mais de 10 anos após ele terminar a carreira na Fórmula 1, os memes e piadas com o tema atraso “estreladas” por ele ainda circularem em redes sociais e grupos de WhatsApp, e mesmo quem não acompanhou a carreira dele na Fórmula 1, por ser jovem demais, entende a referência?

A resposta óbvia estaria no que chamamos de alinhar as expectativas. O público esperava um campeão, não recebeu, se frustrou e reagiu usando um humor bastante ácido!

Mas ai, surge uma questão que pode ser intrigante: Felipe Massa, que teve o seu auge logo depois de Rubinho, também como segundo piloto da Ferrari e companheiro de Schumacher, lidava com expectativas tão grandes quanto Barrichello com toda a pressão que existe vinda de um público que espera para aplaudir um piloto campeão.

Massa teve o mesmo número de vitórias na carreira, 11, com um vice-campeonato, sob judice, em 2008. Um a menos, portanto, do que Barrichello. Por que, mesmo conseguindo resultados parecidos, e reconhecendo que o público brasileiro não liga muito para vice-campeonatos, Massa jamais despertou o mesmo tipo de reação negativa do público que Barrichello despertava?

Por que as pessoas estavam tão dispostas a detonar Rubinho Barrichello?

A resposta fácil, e errada, para essa pergunta, seria a de episódios como os do Grande Prêmio da Áustria, do qual já falamos aqui, geraram uma justa indignação do público. Mas as piadas tendo Rubinho como alvo começaram antes disso, e aquele episódio só piorou a situação

Uma possível resposta está na Teoria dos Gatilhos Mentais, desenvolvida pelo psicólogo Robert Cialdini, uma das maiores autoridades no mundo no assunto. Esse termo, que se fosse ser traduzido do inglês ao pé da letra seria “atalhos mentais” mental shortcuts, descreve reações e comportamentos que temos de forma quase automática quando somos expostos a certos estímulos, sem que reflitamos sobre nossas ações vindas deles.

No seu livro “As armas da persuasão”, um clássico do Marketing que todo mundo que quer saber mais sobre marketing de atração, ou marketing de conteúdo, deveria conhecer, Cialdini descreve 7 gatilhos mentais que provocam reações automáticas nas pessoas, que são:

  1. Reciprocidade.
  2. Coerência e compromisso.
  3. Afeição.
  4. Aprovação social.
  5. Escassez.
  6. Autoridade.
  7. Unidade.

Uma das razões pela qual fomos injustos com Rubens Barrichello é que talvez o gatilho da escassez tenha sido acionado em nós.

O gatilho da escassez

Como seres humanos, temos medo da escassez. De faltar algo que desejamos. Mas as nossas reações, por gatilhos mentais, podem ir muito além de comprar um produto antes que ele acabe. Ela pode nos levar a lutar para manter aquilo que valorizamos, bem como a atacar quem nos tira, ou ameaça tirar, aquilo que consideramos nosso.

Um exemplo disso é que algumas das revoluções mais violentas, e mais inesperadas, para quem não está familiarizado com a influência dos gatilhos mentais no ser humano, não aconteceram nos momentos em que as condições econômicas e sociais eram piores, objetivamente falando.

Elas aconteceram quando elas pareceram piores para as pessoas, nos momentos em que alguma melhora foi seguida de uma piora rápida e evidente. O contraste evidenciava a sensação de que as coisas estavam piores, ativando nas pessoas o gatilho da escassez, da falta de algo que elas se acostumaram a ter. E mais do que lamentar, elas podem partir para o ataque contra quem identificam como responsável por isso.

Das pistas de corrida ao fim da União Soviética

Um exemplo de quando isso aconteceu é dado pelo Professor Cialdini na página 172 de “As Armas da Persuasão”, em que ele descreve como o gatilho mental da escassez levou ao fim derradeiro da antiga União Soviética, quando, após as décadas de repressão de Josef Stalin e seus sucessores, Mikhail Gorbachev começou a abrir o regime.

Por meio das políticas da Glasnost e Perestroika, Gorbachev concedeu à população liberdades, que não existiam ali desde 1917. Na verdade, não tinham existido em momento algum, porque o regime dos Czares, derrubado por Lenin, também não era famoso por garantir liberdades individuais.

E as pessoas gostaram, porque liberdade é agradável e prazerosa. E é muito fácil se acostumar ao que é bom.

Esse novo ambiente assustou um pequeno grupo de burocratas governamentais, militares e agentes da KGB, o serviço secreto soviético, que em 19 de agosto de 1991 tentou dar um golpe de Estado para restaurar a antiga ordem nos moldes da linha dura soviética, prendendo Gorbatchev e colocando-o em prisão domiciliar

O que o resto do mundo esperava é que as pessoas se conformassem com o retorno à ordem opressiva que haviam conhecido antes da Glasnost e da Perestroika. Mas depois de meia década em que usufruíram de um pouco de liberdade, as pessoas não estavam dispostas a abrir mão dela.

Poucas horas após o anúncio da prisão de Gorbachev, milhares de russos estavam nas ruas de Moscou, furiosos e dispostos a enfrentar tropas armadas e tanques, o que seria racionalmente desaconselhável, dada a resposta violenta que autoridades soviéticas haviam dado movimentos semelhantes em Budapeste, na Hungria, em 1956, e em Praga na antiga Checoslováquia, em 1968.

A iminência da escassez de um bem recentemente conquistado, a liberdade, causou nos russos uma fúria que superava o medo, levando a protestos tão maciços que após três dias o golpe foi abortado, decretando o fim derradeiro da União Soviética.

A relação entre os gatilhos mentais e as piadas sobre Rubens Barrichello

Para entender qual a relação entre a reação furiosa dos russos a uma possível reversão da Perestroika, e as piadas que os brasileiros faziam sobre Rubens Barrichello, é preciso voltar a como era o Brasil dos anos 80.

A década de 1980, e início dos anos 90 foi um período em que o país viveu uma crise econômica profunda, com inflação alta e estagnação econômica. Nos esportes, não íamos muito melhor. As grandes conquistas esportivas eram raras. O futebol, um motivo de orgulho do país, entregava várias frustrações aos brasileiros com fracassos em Copas do Mundo.

A exceção era justamente a Fórmula 1! Dos 15 campeonatos mundiais disputados entre 1980 e 1994, 6 foram ganhos por brasileiros. Três com Nelson Piquet (1981,83 e 87) e três com Ayrton Senna (1988, 1990 e 1991). Se voltássemos ainda para a década de 70, poderíamos incluir o bicampeonato mundial de Emerson Fittipaldi. Não por acaso, Ayrton Senna era chamado de “O Brasil que dava certo”.

Os excelentes resultados nas pistas de corrida eram uma fonte de orgulho e alegria para os brasileiros. Para alguns, talvez até de alívio momentâneo. de uma realidade complicada.

E quando se viram privados disso, reagiram com uma fúria originada no mesmo gatilho mental que levou os russos às ruas. Embora fossem situações absolutamente diferentes, assim como as reações, o gatilho mental que levou a ambas as reações era o mesmo.

E foi por isso que Felipe Massa nunca teve que enfrentar as mesmas reações que Rubens Barrichello. Rubinho veio depois de Senna. Massa, depois de Rubinho.

Conclusão

Mas se fôssemos analisar Rubens Barrichello como se ele fosse uma marca, porque esse é um blog de uma agência de marketing digital a lição que fica é que, quando traçamos nossas estratégias, podemos controlar o que nós fazemos. E fazer o melhor possível para atender as expectativas do nosso público, e fazer a melhor entrega.

Mas não podemos controlar as ações dos nossos concorrentes. E  menos ainda, podemos controlar as reações das pessoas ao que nós vamos fazer.

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