Empresas são, por definição, pessoas jurídicas, não físicas. As maiores, que geralmente têm ações negociadas em bolsas de valores são Sociedades Anônimas (SAs), sem um rosto, ou uma pessoa tão associados à empresa ou à marca . Algumas, entretanto, têm como seu diferencial os empreendedores famosos. E eles são um ativo de imagem muito valioso. Entenda como as celebridades corporativas ajudam suas empresas.
Porque empreendedores famosos se tornaram celebridades
Celebridade é uma palavra vinda do latim celebritas, que significa grande público em um lugar, afluência e, em sentido figurado, “fama”. Célebre é algo, ou alguém, que é conhecido, falado ou comentado por muitos, obtendo reputação e renome.
A diferença entre fama e celebridade
No dicionário, fama é um sinônimo para reputação, que pode ser boa ou ruim. Já a celebridade é alguém que é dotado de grande fama e reconhecimento.
Embora fama seja considerada um pré-requisito para ser uma celebridade, nem sempre é suficiente. Deve haver um nível de interesse público na pessoa, que pode ou não estar relacionado ao motivo da fama.
O status de celebridade geralmente é associado à riqueza, ao sucesso profissional e à atenção que atraem , pelo desejo que as pessoas têm de acompanhar o seu estilo de vida, sua riqueza, seu sucesso e saber com quem ela se relaciona. E, dependendo do caso, embora seja algo a ser evitado a todo custo por uma personalidade ligada a uma marca corporativa, suas controvérsias e polêmicas.
A celebridade corporativa
Então, empreendedores famosos acabam se tornando celebridades quando, além do sucesso profissional e financeiro, suas histórias pessoais e profissionais têm elementos que atraem e inspiram as pessoas, que vão além de um lance de genialidade empresarial, como enxergar a oportunidade de mercado que ninguém havia enxergado, ou criar uma tecnologia disruptiva.
Lógico que isso é o mais importante, porque é o que fez a diferença no sucesso profissional dessas pessoas. E vamos incluir na lista dos empreendedores famosos, além dos fundadores das empresas, os grandes executivos que mudaram suas histórias. Ou alguém poderia negar a importância de Jack Welch para a GE? Ou de Lee Iacocca para a Chrysler?
Só que existe um algo a mais: o que esses executivos fazem em suas vidas pessoais, seus hobbies, os esportes que praticam, suas origens sociais e culturais, suas famílias, com quem eles conversam, com quem se relacionam, os filmes que assistem e os livros que leem. Embora exista uma crença de que a vida pessoal deve ser separada da profissional, é um fato que essa fronteira muitas vezes é tênue! E existem os fatores fora do trabalho que influenciam, para o bem ou para o mal, o sucesso profissional.
Isso vale para os empreendedores famosos. Por isso, muitas pessoas gostam de acompanhar pela imprensa, e pelas redes sociais, o que eles pensam, falam e escrevem. O que eles fazem, como fazem, onde vão, e com quem se encontram.
A diferença entre empreendedores famosos e celebridades empreendedoras
A diferença entre empreendedores famosos e celebridades empreendedoras é que os primeiros se tornaram famosos pelo que fizeram no mundo dos negócios. Já as celebridades empreendedoras se tornaram famosas no esporte ou entretenimento, mas no fim de sua carreira, ou durante, demonstraram aptidão para os negócios, e souberam usar sua imagem para emprestar seu prestígio e networking a marcas e empresas, se tornando empreendedores de sucesso.
Esse é o caso de George Foreman, Sabrina Sato, Felipe Neto, Ashton Kutscher, Kihana, Giovanna Antonelli, Ronaldo “Fenômeno” Nazário, e Jack Nicholson, entre muitos outros. A título de curiosidade, Ronaldo se tornou um empresário esportivo, dono de times no Brasil e no exterior, enquanto Foreman, que faleceu em 2025, emprestou sua fama de mais velho campeão de Boxe da História para vender a grelha elétrica que leva seu nome.
A diferença, como já falamos, é que essas pessoas já tinham uma imagem consolidada fora do ambiente corporativo, mas são donas de histórias inspiradoras e uma percepção positiva frente ao público, e ajudam o brandbuilding das marcas às quais se associam.
Como empreendedores famosos ajudam suas empresas
Mas o nosso objetivo nesse artigo é falar dos empreendedores famosos, que se tornaram celebridades dentro do ambiente corporativo, para depois se tornarem celebridades também fora deles.
Muitas empresas têm os seus mitos fundadores, as pessoas que no ambiente interno todos conhecem, admiram e se inspiram, criando as histórias que moldam a cultura da empresa. Em alguns casos, a fama dessa pessoa ultrapassa os limites da empresa e chega ao setor onde ela atua, sendo respeitada e admirada por clientes, fornecedores e até concorrentes, para quem se torna uma referência.
O nível mais alto, entretanto, é quando a reputação da celebridade corporativa se torna tão grande que ela se torna uma espécie de garoto propaganda de sua empresa, ajudando a vender seus produtos e a gerar sentimentos positivos por suas marcas, porque mesmo pessoas que não são, e talvez nunca sejam, seus clientes, se tornam admiradores da pessoa e defensores da marca.
Empreendedores famosos que se tornaram celebridades
Vamos citar então alguns empreendedores famosos que se tornaram celebridades corporativas, e com isso ajudaram suas empresas, porque a admiração que recebiam se estendia às marcas que criaram e às empresas na qual atuam, ou atuaram.
Abílio Diniz
Abílio Diniz, que nasceu em 28 de dezembro de 1936 e faleceu em 18 de fevereiro de 2024, aos 87 anos, se tornou um mito empresarial brasileiro pela sua trajetória a frente do Pão de Açúcar, mas se tornou famoso também como um esportista que praticou corrida, automobilismo, futebol, judô, boxe, capoeira, e divulgava sua rotina de atleta como uma forma de as pessoas conseguirem mais sucesso e autoconfiança.
Rolim Adolfo Amaro
O Comandante Rolim, fundador da TAM, hoje LATAM nasceu em 15 de setembro de 1942 e faleceu em 8 de julho de 2001, em um acidente de helicóptero. Piloto de aeronaves que se tornou dono de companhia aérea, sempre soube liderar e se cercar dos profissionais mais competentes, formados nas melhores universidades, sem se sentir intimidado por ele mesmo não possuir curso superior.
Rolim era um gênio intuitivo do Marketing. Entendendo que atendimento era um grande diferencial, fazia o que nenhum outro CEO de Companhia Aérea, ou mesmo comandante de aeronave fazia, que era receber os passageiros na entrada do avião, bem cedo, antes das 7h da manhã, no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com toda a sua simpatia e carisma, que o tornaram uma celebridade corporativa.
Além da qualidade do serviço da TAM, que era apontada como o grande diferencial da empresa, e ajudava muito o posicionamento da marca, ter a oportunidade de apertar a mão de Rolim fazia com que muitos passageiros escolhessem a TAM, mesmo que houvesse passagens mais baratas para o mesmo trecho em outras companhias.
Luiza Trajano
Luiza Helena Trajano Inácio Rodrigues nasceu em 9 de outubro de 1948, sendo a CEO do Magazine Luiza. É sobrinha da fundadora, Luiza Trajano Donato, que faleceu aos 97 anos.
Fazendo sua carreira na empresa, passando por vários setores, Luiza Trajano se destacou pelo empreendedorismo feminino e por atuar no marketing de causas. A favor de cotas para mitigar desigualdades, sua empresa criou o primeiro programa de trainee exclusivo para pessoas negras no Brasil.
Sua liderança e carisma a tornaram tão conhecida que a Lu, a personagem que representa o Magalu, inclusive como assistente virtual, tem a aparência inspirada na dela.
Luciano Hang
Também conhecido como o Véio da Havan, Luciano Hang nasceu em, 11 de outubro de 1962, sendo cofundador e proprietário da Havan, uma das maiores redes de lojas de departamentos do Brasil. Outro gênio intuitivo do marketing, suas lojas se tornaram famosas pelas réplicas da Estátua da Liberdade colocadas na frente.
Muito ativo nas redes sociais, e com atuação política, se envolveu em diversas polêmicas em um ambiente de polarização política. Mas é inegável que soube lidar com elas, já que o apelido de Véio da Havan, que teria surgido de forma pejorativa, começou a ser utilizado pelo marketing de sua empresa.
Bill Gates
Autor da frase conteúdo é a moeda do Século XXI (ou pelo menos atribuída a ele), o fundador da Microsoft, é um dos homens mais ricos do mundo. Nascido em 28 de outubro de 1955, é uma das pessoas que mudou radicalmente o comportamento de quase todas as pessoas do planeta, já que a Microsoft foi responsável por popularizar o uso de computadores pessoais.
Além de um filantropo com bilhões de dólares doados às causas de caridade, a revista Time descreveu Bill Gates como uma das 100 Pessoas mais Importantes do Século XXI. Em 1998, foi votado como a 1ª de 50 celebridades mais importantes da história e em 1999, foi apontado pela The Sunday Times como a pessoa mais poderosa dos nossos tempos, e em 2006 foi eleito o 8° herói contemporâneo.
Steve Jobs
De todos os empreendedores famosos que se tornaram celebridades corporativas, talvez o mais emblemático seja Steve Jobs, que nasceu em 24 de fevereiro de 1955 e faleceu em 5 de outubro de 2011.
Cofundador da Apple, Steve Jobs foi responsável pela criação do MAC e do Iphone, sem o qual não haveria toda essa economia baseada em aplicativos, como Uber, Ifood e outros. Personificou como poucos o conceito de celebridade corporativa, se tornando um mito moderno, sobre o qual já foram escritos dezenas de livros e feitos dois filmes.
Mark Zuckerberg
Mark Elliot Zuckerberg, nascido em 14 de maio de 1984 é o cofundador do Facebook, hoje Meta.
Na Universidade de Harvard, onde tinha a reputação de um prodígio de programação, estudou Psicologia e Ciência da Computação. Em seu segundo ano, escreveu um programa chamado CourseMatch, que permitia que os usuários jogassem Atari Asteroids 1968 entre si, sem conexões, cabos ou Internet, o que acabava também por ajudá-los a formar grupos de estudo.
É razoável supor que ao perceber o poder de conectar as pessoas para que trocassem ideias e impressões sobre qualquer coisa, tenha nascido o que hoje é o Facebook, que tem como um dos sócios o brasileiro Eduardo Saverin. O Facebook se tornou a maior rede social do mundo, e sob o guarda-chuvas da marca Meta, controla também o Instagram e o WhatsApp.
Outro empreendedor famoso que se tornou um celebridade corporativa, a história de Mark Zuckerberg foi contada no filme A Rede Social, em que foi vivido pelo ator Jesse Eisenberg.
Vantagens para empresas de estarem ligadas a um executivo famoso
Vamos falar então das vantagens para as empresas de estarem ligadas a um executivo famoso, uma celebridade corporativa.
Humanizam o negócio
Ter um empreendedor famoso que se tornou uma celebridade a frente do negócio faz os consumidores a se relacionarem com a empresa, colocando um rosto nela, estabelecendo autenticidade. Os ajuda a acreditar que a empresa é autêntica e tem integridade. Um exemplo claro é o de Luiza Trajano, do Magalu, que inspirou sua assistente virtual, a Lu.
Diferenciam a empresa
Ter uma celebridade a frente dos negócios ajuda uma empresa a se destacar dos concorrentes, mostrando suas habilidades, experiências e valores únicos
Constroem confiança e credibilidade
Um rosto conhecido e admirado à frente dos negócios ajuda uma empresa a construir confiança e credibilidade com seu público-alvo.
Geram leads
O executivo celebridade ajuda uma empresa a atrair clientes construindo relacionamentos com eles. Um exemplo claro era o dos passageiros que escolhiam a TAM, hoje LATAM, porque o Comandante Rolim recebia os passageiros na entrada do avião.
Aumentam a visibilidade
Os executivos famosos, as celebridades corporativas, além de serem seguidos por milhões de pessoas nas redes sociais, muitas vezes são temas de reportagens na imprensa sobre aquilo que fazem fora do trabalho, o que aumenta a visibilidade da marca, em um local onde ela normalmente não apareceria de maneira orgânica e espontânea.
A busca pelas celebridades corporativas, os executivos famosos, pode ser um chamariz para sites e até e-commerces das empresas em que eles trabalham.
Promovem a fidelidade à marca
Se algumas pessoas escolhem uma marca porque têm admiração pelos seus executivos, é natural que sejam fieis a ela.
Influenciam o público
Executivos e empreendedores famosos, com milhões de seguidores nas redes sociais podem atuar como influenciadores.
Como fazer de um executivo bem sucedido uma celebridade corporativa
Toda empresa, quando começa, é um espécie de segunda identidade do seu fundador. A Pepsi, por exemplo, quando surgiu se chamava Brad´s Drink , a bebida do Brad, um referência ao nome de seu fundador, Caleb Bradham. Mas com ele ainda em vida, e a frente da empresa, começou a ocorrer a separação maior entre a imagem do empreendedor e a marca, porque ele mesmo concluiu que isso era comercialmente interessante.
Em outros casos, como o de Bill Gates, por exemplo, mesmo que ele tenha optado por sair do conselho da Microsoft em 2020, e seu nome não seja mais encontrado na seção board menbers do site oficial da empresa, ele continua tendo uma marca pessoal poderosa, e diretamente ligada à da empresa que criou. Isso é algo que está além do controle dele, ou da Microsoft, pois é o resultado de décadas de investimento em personal branding, na marca pessoal de Gates.
Mas não é negativo para a marca Microsoft, já que além de ser visto como um empreendedor visionário, ligado a causas de caridade, Bill Gates sempre evitou se envolver em crises de imagem.
No caso de Mark Zuckerberg, já faz algum tempo que se noticia que ele pratica Jiu Jitsu. Como ele é uma celebridade corporativa, faz sentido que as pessoas tenham interesse em tudo o que ele faz. Mas no caso dos empreendedores famosos, pode existir uma estratégia de marketing que explica a decisão de tornar esse fato público, que é ressaltar as competências do CEO como estrategista.
Os praticantes do Jiu Jitsu já se referiram várias vezes à arte marcial como um xadrez jogado com o corpo. A comparação é feita porque o jogo de xadrez é vencido posicionando as próprias peças para induzir seu adversário a posicionar as dele de uma maneira que torne possível o xeque mate. A analogia com o Jiu Jitsu é que o lutador se movimenta e se posiciona de modo a induzir seu adversário a se colocar em uma posição em que seja possível atacá-lo e finalizá-lo, vencendo o combate.
Para Zuckerberg, se associar a um esporte onde a estratégia é tão importante, ajuda no seu personal branding, na construção de sua marca pessoal frente a todos os stakeholders do Facebook.
O que é necessário para fazer de empreendedores famosos celebridades corporativas
Para finalizarmos esse artigo, não podemos deixar de citar o que é necessário para fazer de empreendedores famosos celebridades corporativas, e a resposta é que é necessário que exista verdade na história que será contada, e que o executivo deseje fazê-lo.
Citamos aqui vários casos famosos: Rolim Amaro se sentia a vontade recebendo seus passageiros na escada do avião, assim como Zuckerberg provavelmente gosta de Jiu Jitsu e Gates se sente realizado com suas obras de filantropia. Isso é algo deles, característica de suas personalidades. Se alguém dissesse a Gates para fazer o que Zuckerberg faz, ou vice-versa, provavelmente não dará certo.
Empreendedores famosos acabam se tornando tão importantes quanto garotos-propaganda para marcas e empresas. Mas não é o que eles são. Eles não são atores contratados para interpretar um papel em público. Para uma empresa adotar a estratégia de ter uma celebridade corporativa, é importante que o que será mostrado ao público seja uma parte do que eles realmente são. É preciso que seja real, verdadeiro, e prazeroso para o executivo.
Do contrário, não somente soará falso e artificial para o público, como será um problema colocado na rotina do executivo, e não uma ação para gerar valor para a empresa e para ele.
Ter isso em mente é tão ou mais importante do que definir quais as ferramentas de Personal Branding que serão utilizadas.

